Nota6.5
Mais perto, mas ainda não espetacular
Uma breve volta no tempo sobre a
história do personagem no cinema. Por muitos anos era tentado levar aos
cinemas uma grande produção estrelada pelo personagem mais popular da
editora Marvel Comics. O Homem-Aranha é para a empresa o que o Mickey é
para a Disney, mas infelizmente o projeto parecia nunca ver a luz no fim
do túnel. A época em que chegou mais perto disso foi nos anos 1990,
quando um James Cameron pré-Titanic quase levou o aracnídeo às telonas na pele de Leonardo DiCaprio.
Como todos sabem, o herói só viria a se
tornar realidade (e um atrativo para toda uma nova geração) em 2002 –
pós 11 de setembro (o que retirou do filme uma cena chave), sob o
comando de Sam Raimi. Raimi é oriundo
do cinema de horror obscuro, mas muito criativo visualmente. Após o
sucesso do segundo filme, de 2004 (que sobressaiu em todos os aspectos o
original), as coisas descarrilaram com um terceiro filme (2007)
incorreto. Mesmo assim, era o desejo do cineasta continuar com a
franquia por um quarto filme, no qual o herói enfrentaria o Abutre na
pele de John Malkovich e se apaixonaria pela Gata Negra de Anne Hathaway.
A Sony, no entanto, optou por reiniciar a franquia, com um diretor novo e elenco mais jovem. Entram Marc Webb (500 Dias Com Ela), Andrew Garfield (A Rede Social) e Emma Stone (Histórias Cruzadas).
Problema 1: Grande parte do público achou que era cedo demais para
recontar uma história de origem, que havia sido mostrada mundialmente há
dez anos. Problema 2: O resultado final foi simplesmente morno demais e
além do filme não ter acrescentado muito à mitologia do personagem no
cinema, o que acrescentou foi uma subtrama (que é o centro dessa nova
investida) que ninguém liga muito – envolvendo os pais do protagonista.
Se o primeiro filme foi acusado de tentar pouco, esta segunda investida do diretor Webb
no universo do Aranha pode ser acusada do oposto, de tentar demais. E
aí entra a influência da Disney/Marvel, que vem construindo produções
interligadas de centenas de milhões de dólares. O fato encheu os olhos
do estúdio, que decidiu tomar um caminho similar com sua galinha dos
ovos de ouro e expandir ao máximo sua franquia. Este planejamento é
sentido já aqui na segunda aventura. São diversos personagens salpicando
a tela. Os que não ganham o holofote central, aparecem em pontas
estratégicas para produções vindouras.
Na história, Peter Parker (Garfield) está atormentado por não ter cumprido a promessa de se afastar da namorada. As coisas pioram quando Gwen (Stone) decide ajudá-lo a combater seus inimigos, em especial o condutor de eletricidade, Electro. O vencedor do Oscar Jamie Foxx (Django Livre)
interpreta o vilão. Inicialmente um nerd introvertido e solitário,
fanático pelo Homem-Aranha, o personagem sofre um terrível acidente que
transforma seu corpo em energia. Seu arco dramático lembra muito o do
personagem de Jim Carrey em Batman Eternamente (1995).
Temos também a volta do amigo de infância, Harry Osborn (Dane DeHaan), sua doença hereditária e segredos familiares, que envolvem principalmente o pai, Norman (Chris Cooper). Paul Giamatti, na pele de um mafioso russo, abre e fecha o filme (já na pele de um rinoceronte metálico). E a obra planta os personagens de Felicity Jones (cujo papel rima com seu nome real), Colm Feore e B.J. Novak, todos reconhecíveis para os fãs. Em meio a esse desfile de personagens e easter eggs existe uma trama em algum lugar. Só não sabemos ao certo qual é, ou sobre o que o filme deseja falar.
O Homem-Aranha é o herói mais abrangente de todos, isso inclui as
crianças. Percebemos um tom mais infantilizado nesses filmes, em relação
aos outros filmes de super-heróis. O fato é verdade inclusive para os
filmes da era Raimi. Levando isso em conta, é possível
encontrar diversão. O novo filme é mais recheado de ação e o visual
continua fantasticamente chamativo (com direito a perspectiva do herói
enquanto se pendura nas teias – na era das câmeras GoPro, não podia ser
diferente). O ponto negativo é que nenhum vilão é minimamente
interessante, dentre três para escolher aqui (nos quadrinhos eles são
aparentemente mais tridimensionais). Já os fãs, ficarão felizes em saber
que vem mais (muito mais) coisa por aí.
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