Quando a Sony anunciou que iria reiniciar a franquia do herói aracnídeo,
a grande pergunta era: o novo filme irá contar tudo o que já foi visto
mais uma vez? Por mais que certos fatos, como a morte do tio Ben, sejam
incontornáveis, os produtores e o diretor Marc Webb buscaram um novo olhar sobre o personagem em O Espetacular Homem-Aranha.
Desta forma, o Cabeça de Teia surgia mais jovem, explorando mais o lado
piadista, com Gwen Stacy ao invés de Mary Jane Watson como interesse
amoroso e com uma subtrama existente nos quadrinhos, mas pouco
explorada, envolvendo o desaparecimento dos pais de Peter Parker. Por
mais que renovasse o personagem e tenha feito sucesso junto ao público -
foram US$ 752 milhões arrecadados nas bilheterias mundiais, fora
brinquedos e produtos relacionados -, ficou sempre a sensação de ser um
filme menor diante dos que foram dirigidos por Sam Raimi. O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro surge disposto a jogar por terra esta impressão, mas acaba prejudicado pelas próprias características desta nova série.
A bem da verdade, a nova franquia do Homem-Aranha ainda vive à sombra da
trilogia original. Não me refiro propriamente às inevitáveis
comparações, mas na própria escolha dos personagens e ambientações. Fica
nítido em vários momentos que Webb e companhia seguiram certos caminhos
apenas para fazer diferente, mesmo que não seja a melhor opção. Um
exemplo: J.J. Jameson, mais uma vez, não aparece em cena - há uma breve
piada envolvendo seu nome -, apesar de Peter Parker já trabalhar
normalmente para o Clarim Diário. O motivo? A popularidade obtida por J.K. Simmons ao interpretar o personagem na série estrelada por Tobey Maguire.
Outro caso: a insistência na pouco interessante subtrama dos pais de
Peter, por mais que ela distraia do verdadeiro mote desta sequência, que
é a paixão que une o herói a Gwen Stacy e a sombra da promessa feita
pelo Aranha ao pai dela, ao término do longa anterior. Na trilogia
original, havia apenas uma breve menção aos pais do personagem título.
Diante deste fantasma onipresente, O Espetacular Homem-Aranha 2
mais uma vez é uma aventura menor do que poderia ser. O que está longe
de significar que seja um filme ruim. Com efeitos especiais caprichados,
às vezes beirando a animação, o filme possui cenas de ação muito boas
que exploram bem a capacidade de imersão do 3D. Andrew Garfield
parece mais à vontade na pele do herói e consegue transmitir com
fidelidade o ar juvenil característico desta versão. O Aranha piadista
mais uma vez marca presença, com sacadas bem-humoradas e gags visuais divertidas. Mas, se o filme tem tudo isso, qual é o problema então?
São três, na verdade. O primeiro é a história dos pais de Peter, que
ocupa um tempo imenso dentro dos 142 minutos de duração. O segundo é a
trilha sonora de Hans Zimmer, que incomoda especialmente nas cenas envolvendo Electro (Jamie Foxx).
O terceiro é o exagero de vilões na história, que disputam espaço entre
si. O mais elaborado é Electro, que até apresenta um perfil psicológico
interessante, mas que se torna um supervilão típico pouco após a
transformação. O Duende Verde de Dane DeHaan
tem traços de loucura bacanas, ajudados pela maquiagem caprichada, mas
acaba diminuído diante da grande quantidade de subtramas a serem
trabalhadas no longa-metragem. E Rino (Paul Giamatti),
coitado, tem uma participação mínima como o vilão da vez a enfrentar o
Aranha - mas, justiça seja feita, são cenas divertidas que retratam bem o
clima dos quadrinhos nas telonas.
Diante deste gigantismo e da má escolha nas subtramas a serem abordadas, O Espetacular Homem-Aranha 2
fica empacado durante boa parte de sua narrativa. O filme apenas
empolga de vez logo no início e também na reta final, quando ganha ares
apoteóticos. É hora do show de efeitos especiais, das batalhas
empolgantes e de uma boa dose de coragem, para a alegria daqueles que
conhecem a história do herói aracnídeo nos quadrinhos. Divertido, bem
feito e bem atuado, mas com problemas de roteiro, O Espetacular Homem-Aranha 2
tem grandes chances de repetir o sucesso do filme anterior. Mas, para
chegar ao nível da trilogia de Sam Raimi, ainda precisa melhorar.
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