Nota7.0
Lançado em 2000, ‘X-Men‘ foi um dos primeiros filmes da nova leva de super-heróis e criou a tendência que hoje vemos nos cinemas das adaptações realistas dos quadrinhos amados pelos fãs.
Com um trabalho primoroso de direção, Bryan Singer conseguiu reunir um elenco de primeira em um filme que pregava a defesa das minorias – os mutantes poderiam ser muito bem vistos como os homossexuais, que enfrentam problemas com uma sociedade preconceituosa e intolerante. Prova disso é que o diretor e um dos protagonistas (Ian McKellen) são assumidamente gays. E é a urgência de um assunto tão delicado e importante que fazia desse filme o início de uma poderosa franquia.
Se no primeiro filme Singer tinha um orçamento mediano e a incerteza de sucesso nas bilheterias, no segundo filme a coisa foi totalmente diferente: mais recursos, mais personagens, mais ação e o melhor filme realizado da franquia (até o vindouro ‘X-Men: Primeira Classe‘). A franquia emplacou.
Singer não retornou para o terceiro filme e deu a cadeira a Brett Ratner, que comandou o roteiro mais corajoso da franquia: matou três personagens principais. Apesar de não ter agradado muitos fãs e críticos, ‘X-Men: O Confronto Final‘ tinha uma história concisa e focava em uma das personagens preferidas por todos, a Jean Grey (majestosamente interpretada por Famke Janssen). Foi o mais pirotécnico e agitado filme da franquia.
Com o alto salário pedido por Halle Berry e amigos, os produtores deixaram um possível ‘X-Men 4‘ de lado e decidiram reiniciar a franquia com um filme que mostrava a juventude de Erik e Charles Xavier, e nos entregaram o melhor filme de todos. Dirigido por Matthew Vaughn, ‘X-Men: Primeira Classe‘ voltou aos anos 60 para mostrar o início do embate entre esses dois grandiosos mutantes, enquanto o mundo sofria com a crise dos mísseis de Cuba. Roteiro inteligente, enxuto e que lembrava os filmes de James Bond, e não apenas um filme de super-herói.
Com uma ideia megalomaníaca, a Fox resolveu fazer algo grandioso: unir o elenco da trilogia inicial com o de Primeira Classe em um único filme, trazendo uma das histórias mais inteligentes dos quadrinhos para as telas: ‘Dias de um Futuro Esquecido‘.
A história começa com os mutantes em um futuro não especificado ou explicado, sendo caçados impiedosamente pelos Sentinelas, gigantescos robôs criados por Bolívar Trask (Peter Dinklage, da série ‘Game of Thrones’). Os poucos sobreviventes precisam viver escondidos, caso contrário serão também mortos. Entre eles estão o professor Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Tempestade (Halle Berry), Kitty Pryde (Ellen Page), Vampira (Anna Paquin), Bobby (Shawn Ashmore) e Wolverine (Hugh Jackman), que buscam um meio de evitar que os mutantes sejam aniquilados.
A forma encontrada é enviar a consciência de Wolverine em uma viagem no tempo, rumo aos anos 1970. Lá ele ocupa o corpo do Wolverine da época, que procura os ainda jovens Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para que, juntos, impeçam que este futuro trágico para os mutantes se torne realidade.
Com o excesso de personagens e tramas paralelas, ‘Dias de um Futuro Esquecido‘ peca aonde ‘Primeira Classe‘ acertou: no roteiro. Furos na cronologia da franquia (como o retorno inexplicado de Professor X após os eventos de ‘X-Men 3′), personagens adicionados apenas para vender brinquedos e viradas na trama que excedem a necessidade de surpreender o espectador.
Os sentinelas, que supostamente seriam os vilões, são mais vistos e explicados nos trailers e materiais de divulgação do que no filme em si, aonde tudo parece corrido e apressado para aproveitar uma cena de ação atrás da outra. É interessante ver que alguns personagens ganharam trailer próprio e guia explicativo durante a divulgação, e no filme aparecem apenas em uma cena sem importância.
Deixando de lado os furos no roteiro e os erros na cronologia da franquia, ‘Dias de um Futuro Esquecido‘ diverte. Jennifer Lawrence conquista seu grande auge na fama enquanto sua Mística se torna a personagem mais importante, com cenas em que a atriz pode mostrar seu potencial sem a maquiagem e cenas de ação mirabolantes. É sua personagem e o Wolverine, na melhor atuação de Hugh Jackman, que comandam e guiam a trama.
Reinventado e mais próximo aos quadrinhos, o Wolverine visto aqui é aquele amado pelos fãs. Violento, irônico, canastrão. Patrick Stewart e Ian McKellen dão um show em tela, apesar da pouca participação e importância na trama. Michael Fassbender se entrega ao personagem em uma atuação ainda superior ao último filme, e James McAvoy tem a chance de brilhar enquanto seu personagem tenta superar os eventos que o deixaram preso em uma cadeira de rodas, sem seus amigos.
O ponto alto do filme é a cena de Mercúrio (Evan Peters), bem realizada e divertida, nos deliciamos enquanto o mutante mostra suas habilidades em um slow motion embalado ao som setentista, sem perder a maestria das piadinhas e brincadeiras adolescentes. Já clássica, a cena é tão bem realizada quanto a da invasão de Noturno (Alan Cumming) na Casa Branca, no segundo filme.
‘X-Men: Dias de um Futuro Esquecido‘ é um bom filme, que não conseguiu fazer jus à grandiosa divulgação criada pela 20th Century Fox e ao legado que seus personagens deixaram nas telonas. Com boas atuações, direção inteligente e cenas de ação mirabolantes, o filme peca no principal: o roteiro. No final, parece que tudo que assistimos antes foi descartado. E quem gosta de passar anos sendo feito de bobo?
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